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09/02/2024 às 18:51
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O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) disse ser contra a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as revelações feitas pela Operação Tempus Veritatis na quinta-feira, 8. Segundo Temer, até o momento, não há razão para prender Bolsonaro com base nas evidências apresentadas.
“Pelo menos pelos fatos que vieram à luz até agora, penso que não há razão para a prisão. Há sempre a perspectiva de (uma prisão), mas a perspectiva de depende de uma concretização de determinados fatos. E esses, caso concretizarem, sei-lo-ão adiante”, disse Temer em entrevista à CNN Brasil na quinta.
Conforme o ex-presidente, as provas reunidas indicaram a intenção e tentativa de uma ação golpista, que, segundo ele, não teve sucesso porque as Forças Armadas rejeitaram a empreitada antidemocrática da cúpula de Bolsonaro.
“Houve uma intenção e uma tentativa de ação. Quando eu digo tentativa de ação foi aquele movimento que se deu em Brasília, mas de pessoas que não tinham exata e precisamente um plano completo, porque o plano completo é que você só tem um golpe de Estado quando as Forças Armadas querem, e as Forças Armadas não quiseram isso”, afirmou Temer.
O ex-presidente considerou como “grave” as intenções golpistas reveladas pelo relatório da operação e se disse “surpreendido” pelos diálogos de Bolsonaro e seus aliados.
Segundo ele, a intenção dos membros do governo anterior era uma intervenção militar após os ataques aos prédios públicos dos Três Poderes, em Brasília.
“Eu me surpreendi um pouco com os diálogos havidos e coletados nesse início de investigação e com reuniões que se verificaram sem nenhuma conclusão. Porque a conclusão, se ela fosse verdadeira, deveria ser as Forças Armadas de acordo, o pessoal faz um movimento para invadir prédios e etc. Em seguida, as Forças Armadas decretam uma intervenção militar no Estado brasileiro”, disse Temer.
Investigações apontam Bolsonaro como ‘artífice’ do golpe
A operação da PF realizou 33 mandados de busca e apreensão contra ex-ministros, militares de alta patente e ex-assessores de Bolsonaro. O ex-presidente é suspeito de ter sido o “artífice” de um golpe de Estado após as eleições de 2022. Ele teve o passaporte apreendido e está proibido de deixar o País.
A PF colocou Bolsonaro como participante direto na edição de uma “minuta golpista” que circulou entre seus aliados após o segundo turno. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, sugerem que o ex-presidente ajudou a redigir e editar o documento.
As mensagens foram trocadas entre Cid e o general Marco Antônio Freire Gomes, que era o então comandante do Exército, em dezembro de 2022. De acordo com o ex-ajudante de ordens, Bolsonaro “enxugou” o texto. “Fez um decreto muito mais resumido Algo muito mais direto, objetivo e curto, e limitado.”
A versão inicial do rascunho previa, além de novas eleições, a prisão de autoridades, como os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Segundo a PF, por sugestão de Bolsonaro, apenas a prisão de Moraes foi mantida no documento.
Temer intermediou contato entre Bolsonaro e Moraes em 2022
No dia 5 de julho de 2022, Bolsonaro realizou uma reunião com ministros que foi gravada e encontrada no computador de Mauro Cid pela PF. Segundo os investigadores, o vídeo do encontro evidenciou a “dinâmica golpista” planejada pela alta cúpula do governo passado.
O ex-presidente incentivou a sua equipe a divulgar desinformações sobre o processo eleitoral e disse que não era o caso de o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira “botar tropa na rua, tocar fogo e metralhar”.
A reunião ocorreu um mês antes de Temer virar um “conciliador” entre Bolsonaro e Moraes, intermediando uma ligação telefônica entre os dois.
O emedebista disse que o gesto seria uma representação de “boa vontade e grandeza” entre o Executivo e o Judiciário, que estavam tensionados após ataques diretos do ex-presidente aos ministros do STF.
Estadão Conteúdo
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