03-11-2024
Nenhuma disputa eleitoral é acompanhada com tanta atenção pelo mundo como a pela Casa Branca. O cargo de presidente dos Estados Unidos tem grande poder político, econômico e militar, e suas decisões provocam efeitos muito além de suas fronteiras.
O pleito da terça-feira (05/11) desperta particular apreensão: a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump estão em empate técnico nas pesquisas, e Trump já demonstrou no seu mandato anterior seu potencial disruptivo para a estabilidade democrática e o combate às mudanças climáticas.
Para o Brasil, o impacto de uma vitória de Trump deve ser significativo: fortalecimento da extrema direita, redução de financiamento e parcerias na área ambiental, entraves comerciais e pressão sobre a parceria com a China são alguns dos efeitos mencionados por especialistas ouvidos pela DW.
Já no caso de uma vitória de Harris, a tendência é a manutenção de uma relação morna entre Washington e Brasília, sem grandes ambições relacionadas à América do Sul, mas business as usual e com entendimentos para a defesa da democracia liberal e a proteção do meio ambiente.
Não é segredo quem é o candidato preferido do governo brasileiro. No início de junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que torcia para que o presidente americano Joe Biden vencesse – três semanas depois, ele depois abriu mão de sua candidatura à reeleição em favor de Harris. Já Trump apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro em 2022, dizendo que Lula era um "lunático da esquerda radical".
Democracia e extrema direita
Os EUA são uma referência para muitos no Brasil, e o resultado da disputa política americana às vezes reverbera no cenário político brasileiro. Um exemplo: em novembro de 2016, Trump foi eleito presidente pela primeira vez; dois anos depois, Bolsonaro venceu no Brasil. Em janeiro de 2021, apoiadores de Trump inconformados com sua derrota invadiram o Capitólio; também após dois anos, bolsonaristas indignados com seu fracasso eleitoral invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
Neste ano, a campanha de Trump tem sido mais explícita do que a de 2016 em propostas de cunho autoritário – como usar instituições de Estado e as Forças Armadas contra seus adversários. E se ele for eleito, fortalecerá a posição da extrema direita ao redor do mundo, inclusive a do Brasil, afirma à DW a cientista política Maria Hermínia Tavares, professora aposentada da USP e pesquisadora sênior do Cebrap.
"Uma vitória do Trump vai diminuir ainda mais a capacidade de democracias liberais de fazerem frente a uma ascensão de regimes autoritários e de movimentos de extrema direita", afirma. "Existe uma influência clara e uma linguagem comum nesses movimentos, e uma vitória do Trump fortalece a extrema direita no Brasil, que já é forte."
Um eventual sucesso de Trump em 2024 trará um vento de esperança para o bolsonarismo em 2026, acrescenta Roberto Goulart Menezes, professor de relações internacionais da UnB e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU).
"Há um vínculo claro do núcleo duro do bolsonarismo com a extrema direita dos Estados Unidos. Se ele assumir a Casa Branca, essa rede se consolida mais", diz, citando as articulações de Eduardo Bolsonaro com o trumpismo e lembrando que ele chegou a ser cogitado por Bolsonaro para ser embaixador do Brasil no país.
Se Harris vencer, a tendência é de menor instabilidade na democracia brasileira e latino-americana como um todo, diz Menezes. "O governo Biden foi decisivo para o Bolsonaro não triunfar com o golpe no Brasil – eles se mobilizaram durante meses para que o Brasil não saísse do trilho."
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